terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Estranho culto à morbidade

Não é de hoje que observamos um curioso interesse da sociedade em geral pela morbidade. Isto fica claro ao passarmos de carro ou de ônibus por um acidente envolvendo vítimas - todos param para dar aquela "olhadinha" nos corpos moribundos estendidos no chão. Digo que este interesse não é de hoje porque ao analizarmos o texto escrito por Vanessa R. Schwartz, percebemos que, ainda em 1888, a população fazia fila na porta do necrotério de Paris para ver os cadáveres expostos, tais quais obras de arte nos museus. As mortes destas pessoas eram noticiadas através do veículo de cultura de massa da época, os jornais. Depois, seus corpos eram levados ao necrotério, atraindo um número surpreendente de visitantes.
Assim, podemos fazer um paralelo entre os mórbidos espetáculos do necrotério de Paris e do velório da menina Eloá Pimentel, morta pelo ex-namorado durante um sequestro. Da mesma forma que o necrotério atría uma multidão de visitantes, estiveram presentes no velório de Eloá cerca de trinta mil pessoas. Muitas delas passaram horas na fila para ter o "prazer" de olhar por alguns segundos o corpo sem vida da menina. Outras, tiravam fotos do caixão tornando a visita ainda mais mórbida.
O velório foi transmitido ao vivo para todo o país, num grande espetáculo midiático. A cultura de massa explorou o "evento" durante semanas a fio. Tudo isto até aparecer a próxima Eloá, ou até um próximo necrotério ser inventado. Mas a certeza que fica, é que este estranho culto à morbidade sempre foi inerente ao ser humano, e sempre será.
(Marcella do Amaral Román).

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