O Globo- Segundo Caderno - Quinta – feira, 28 de maio de 2009
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Susan e as sobrancelhas
Renato Lemos
Outro dia, no programa “Superbonita”, exibido pelo GNT, Taís Araújo e Cléo Pires conversaram por aproximadamente 10 minutos sobre sobrancelhas. Foi um papo animado discutiam como se falassem de questões realmente sérias, como a ida do Obina para o Palmeiras ou a inapetência do ataque do Botafogo. Estavam as duas deitadas em macas de massagem, costas nuas, nos jardins do hotel Sheraton,
Susan Boyle, a escocesa que conquistou o mundo cantando “I dreamed a dream” no “Britain’s got talent”, program de calouros da Inglaterra, deve ter uma Taís ou uma Cléo soprando coisas
Domingo passado, quando disputou a semifinal do concurso, isso tudo tinha mudado. Susan reapareceu no programa como uma espécie de Dilma em inicio de campanha. Uma beleza, tipo caso de “antes” e “depois”. Usava um vestido escuro, daqueles que emagrecem. Ela cantou “Memories” tirada do musical “Cats”. É uma musica bonita. Lá pelo meio, a letra evoca tempos de felicidade e beleza. No palco, de sobrancelhas feitas e maquiagem discreta, Susan parecia uma outra mulher. Talvez por isso tenha cantado pior (chegou a desafinar tristemente nas primeiras notas). Ou talvez por isso, pela primeira vez tenhamos prestado mais a atenção à sua voz que a seu rosto. O povo bateu palmas, soltou gritinhos e a caloura faturou a chance de disputar a final do programa. Justíssimo, diga-se. Mas, no dia seguinte, os acessos ao vídeo na internet caíram para a terça parte dos registrados na estréia.
Antes de mais nada – e Maria Gladys está aí há muito tempo para confirmar -, não existe mulher feia. Nem é você que esta bebendo pouco. Há sempre alguma coisa bacana
Mas – vai daqui um apelo patético – queremos as sobrancelhas de Susan de volta. Susan sem sobrancelhas é como a Monalisa sem aquele sorrisinho maroto. Ou a Renata Vasconcelos sem as covinhas na bochecha. Falta algo. Personalidade. Cultivo. História. Alem de grossas elas desenham rotas em seu rosto, orientam as emoções. Sem sobrancelhas, Susan é uma cantora qualquer uma daquelas meninas do Raul Gil que não irão à parte alguma. As sobrancelhas de Susan – mais do que a sua voz – nos davam motivos sinceros de torcer pelo seu sucesso. E ter um lado para torcer é coisa essencial na vida de qualquer um.
David Lynch, o cineasta truqueiro de “Cidade dos Sonhos”, filmou “O homem Elefante” em 1980. Era um filme baseado em uma história real sobre um homem, John Merrick, com uma enorme deformidade facial, que é violentamente explorado
Susan Boyle não é O Homem Elefante, é preciso que se esclareça. Está muito longe disso. Parece ser uma ótima companhia para um chope com torresmo no botequim da esquina. Além de cantar muito bem, é óbvio. A historinha é apenas uma ilustração dos códigos de funcionamento do mundo do espetáculo. Dos freak shows ao cinema, passando pelos programas de calouro, claro. Chacrinha que o diga. E o Ugly Betty também. O sucesso não costuma o meio-termo. Ou é ou não é. Nada mais longe do mundo do espetáculo do que o “quase”. Ali, ninguém pode ser quase bonito. Nem quase feio. Mesmo com um tratamento “superbonita” a que foi submetida, Susan ainda é feia ( ou linda, vá lá ! ) o suficiente para driblar os “quases” e vencer no final. Mas, se fosse ela, eu tratava de deixar minhas duas taturanas de molho.
AilatanDias
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